terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Acabou!




Nunca me conformei com o fim de nada. Por mais que eu sentisse que era a hora. Por mais que eu quisesse ou precisasse me livrar das coisas. O “acabou” sempre chega ou chegou como se eu jamais tivesse parado pra pensar nele. Cruel, terrível e doloroso além de mim.
O último dia em qualquer coisa que tenha durado tempo suficiente pra me fazer dormir sorrindo com o dia seguinte. Um emprego, um curso, uma casa, uma viagem especial, um relacionamento. O último dia do ano. Sempre tristes, sempre cheios de momentos em que eu preciso me isolar e ficar de um quase desespero catatônico. Uma vontade de sair correndo sem me mexer. Um pavor calmo e, pra quem nada entende de espasmos assustados, até sorridente. Abaixar e abrandar tudo em mim que ainda se debate pra continuar onde estava. Subindo loucos para a minha testa, todos eles. Mas quem são esses eles que sobem pra minha testa? Um mal estar em velar a vida que acabou pra poder continuar. Dez pra meia noite meus amigos já estão um pouco bêbados e os fogos começam nos lugares próximos. A rua em frente a casa está linda e o teto cheio de bexigas brancas. Meus amigos cheiram bem. Digo, por causa do banho. Eu sumo. Desapareço. E começam as piadinhas “deixa, ela é assim mesmo”. Uma coisa horrorosa me assusta e eu quero algo que não é nem a minha mãe e nem a minha cama e nem a minha casa.Ainda existe ir embora. Mas da onde? Eu sempre querendo ir embora. Mas pra onde? Quero um colo e um quente e um ombro que nunca conheci. Não é de homem, de amor, de força. O que é isso? Um enjoado que não faz passar mal. Um frio que não precisa de agasalho. Uma necessidade absurda de ir para um lugar que eu nem imagino qual seja. Uma saudade de vida inteira como se eu já tivesse vivido. Uma coisa enorme e ao mesmo tempo concentrada naquela picadinha de inseto atrás do meu joelho que incha e incomoda do tamanho do mundo. Uma angústia que estremece até aqueles cantos da gente que a gente passa batido. Uma coisa de cantos e não de peitos. Mas que acaba com o oxigênio.
Me sento em um lugar comum, sem o notar detalhadamente. Aperto meu celular. Pra quem eu quero ligar? Quem? Ninguém. Não é saudade de gente essa coisa. Não é coisa que passa de ouvir voz ou desejo ou coisas bonitas. Então passa com o quê? Chama a Lô que vai dar meia noite. Não, deixa ela. Ela é assim mesmo. É “tipo” isso que ela faz? É e não é. É saudade da família, do cara, da cachorra? Não, ela é assim. Escuto os outros e enquanto isso acontecer, não vai passar. Preciso me escutar. Mas não tenho nada pra me dizer. Só esse vão dos pensamentos. Só esse intervalo de motivos. Só a soneca merecida do carrasco que mora no centro da minha cabeça. Só o momento alienado das listas. Esse bueiro vazio embaixo da vida. Essa falha da linha embaixo do que se tem a dizer. Esse nada que caio, de vez em quando, e que também não tem nada pra me dizer a não ser que o mistério também faz parte. Assim que eu me sentir mais leve, simplesmente saio dele, sem nada concluir. Não dá pra forçar, levar um choque de voltar pra superfície. Só o que existe é enfrentar esse algo que jamais soa como algo a ser enfrentado, já que não é nada.
Coloca aí a sinfonia número 5 para eu chorar? Quando meu pai me leva, aos domingos, para ver concertos, fico torcendo pra ter essa porque ela sempre explica, de alguma maneira, o fim das coisas. Não é de morte, mas é de morrer. Entende? Coloca? Não, Lô. Ninguém tem isso aqui, tá louca? A gente vai colocar o Asa de águia. Oi? É. E eu mais uma vez me pergunto porque saio da minha casa no dia que mais tenho pânico de todos os dias do ano. Mas se eu contar pra alguém, vão me mandar pra médicos e remédios e curandeiros. Como se tivesse solução pra ter nascido. Ninguém entende nada. Então só me afasto e aperto o celular. Não quero nada e nem ninguém. Aperto apenas pra lembrar que existe, ainda, uma lista de querer dentro de mim. Que uma hora volta. Daqui a pouco eu volto e tudo volta.
A virada do ano. Estamos todos morrendo! Quero correr pela rua. E gritar. Fodeu galeraaaaaa! Estamos todos morrendo! Acabou. Ta acabando. Vai acabar. E isso é...putz, e isso é tão lindo que eu queria poder, agora, amar demais tudo e todos. Amar daquele jeito perfeito que dura um segundo e não quer nada em troca. Amar com meu caminhão da Granero. Do jeito enorme e grosseiro que sei. Mas não faço nada disso, apenas rebolo, como se eu fosse mais uma ovelha do rebanho feliz, ao som do Asa de águia. E é como se o diabo me filmasse para eu saber, pra sempre, o quanto me traio pra jamais sucumbir a minha estranheza. O quanto deixo de assustar os outros com a minha maluquice e me assusto com a maluquice dos outros em mim. Rebolo pra dar de presente ao mundo minha presença, ainda que nem eu possa senti-la nessas horas.
Acabou. O ano virou. Daqui a pouco, todos estarão tão bêbados que eu poderei ser estranha ou infeliz ou bizarra ou nula como bem entender. Talvez ir dormir, por exemplo. E poderei me libertar dessa obrigação pavorosa de estar feliz e simpática e emanando coisas boas. A ditadura da felicidade. Ano Novo é que nem o Rio de Janeiro. O Hugo Chávez da alegria. Eu quando fico estranha, quando tenho o “troço” que me dá, a última coisa que quero é um abraço. Agora imagina ficar estranha todo ano novo, a data dos abraços. Socorro.
As quatro da manhã, em meio a bexigas estouradas, gente caída, bocejos e I-pods descarregados, sinto a alegria vindo. Canto bem alto. Danço. Abraço os restos das pessoas espalhados pelos restos da festa. Agora é a minha vez. Enquanto todos acabam de comemorar o final do ano, começo a comemorar o final da comemoração de final de ano. Ufa! Acabou! Acabou o Natal e o ano novo! Ufa! Agora que não precisa ser feliz, posso ser feliz em paz. Agora que não precisa ter energia, esbanjo minha falta de limite. Quero correr pela rua agora. Estamos todos vivos. Galeraaaaaa estamos vivooooos! Ufa! Acabou! Acabooooou! É isso. Não sei ser feliz com os finais que chegam. Mas sempre dou um jeito de me divertir quando sou eu que, apesar de tudo, chego até o fim

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Natureba



O clima de férias implica em tudo que você lerá dessa vez. Não venha correr os olhos neste texto achando que esse será mais um dos textos dedicados à amores sem sorte, ou uma desilusão banal e aditiva que todos temos nesta vida, pois não é. Eu mal quero saber. Vamos dizer de como me sinto melhor nessas últimas semanas. Muito melhor. E agora que entrou o verão, a tendência é só melhorar. Eu que amava o inverno com todas aquela neve imaginária que caia nos meus sonhos nas noites que beiravam os menores graus, sempre mais forte dos menores. Eu que sempre gostei de me congelar, de curtir o frio com aquela roupa toda e me esbaldando no meu chocolate quente. Isso é curtir um inverno? Eu deveria ter saído sem um terço dessa roupa toda naquele frio do caralho. O bom mesmo era estar com ele, junto, grudado, e quando ele dizia: "Eu vou alir pegar um vinho, já volto, tá?" Era como se eu disesse sem dizer que o frio iria me matar se ele não voltasse logo. O verão chegou... Ah, sabe a sensação mais pura de liberdade. É o que eu sinto. O sol transpassa minha pele e aquece todo meu interior sem nenhuma necessidade ou dificuldade. Como se a única coisa que eu realmente dependesse fosse do majestoso Sol e de mais ninguém. É como se o Sol falasse comigo:" Menina, calor humano nenhum poderá te aquecer melhor que eu, fique comigo, me aproveite antes que eu vá embora." E eu fico, claro. Passo a maior parte do tempo exposta a ele, como se fose a minha bateria. Quem iria precisar de mais alguma coisa? Eu não. Nada é maior que ela. Nenhum amor, nenhum desejo, nenhum plano, nenhuma sessão de meditação, acupuntura ou psicanálise. A natureza é soberana. Pobre da mente, das boas intenções e do resto todo que acha que manda alguma coisa. É ela quem me comanda. Não há nada comparado, nenhuma força maior. O bem estar não é clássico, não só tira da monótona vida urbana como dá a paz e sensação de liberdade. Espere. De que estamos falando? Desse lugar que defendo tanto com meus enormes dentes e unhas da cor pink. Como é triste e absurdo e solitário defender um lugar que não existe e que eu própria não tenho músculos e nem fé para suportar. Eu defendo o lugar do qual não pertenço, mas pra onde eu tenho eterna passagem comprada e cancelada e comprada e cancelada. Eu quero mesmo é personificar tudo isso. A espera de alguém que não vá embora, que aguente, que divida meu desespero ou apenas o suporte. A espera da pessoa que suba comigo e fique comigo lá em cima, me ensinando a viver lá de cima. A espera da pessoa que faça aqui embaixo ser algo tão bom que eu não precise mais brincar de assassina de tudo e de mim mesma. A espera da pessoa que não morra quando jogada da minha janela altíssima. E suba de novo. Ou não caia. Entenda que minha porrada não era para jogá-la do alto mas apenas porque estar no alto é se debater em tudo. E volte. E fique. E me deixe aqui embaixo. E me deixe aqui em cima. A espera eterna de mim mesma na versão que faz dar certo, quem sabe, no Sol. Que sempre será a única certeza, a certeza que voltará sempre pra mim. Ih, me desculpe... foi mais um texto dedicado aos meus amores sem sorte e à qualquer desilusãozinha banal dessa vida.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Pequena saudade.




Não sei se foi o clima de Natal ou de Ano Novo. Não sei se é porque agora, nesse exato momento, estou ouvindo “Vem pra cá", do Papas na Lingua, e tomando meu tradicional leite quente das noites frias. Só sei que a noite está pedindo e resolvi fazer uma sessão nostalgia.
Acho normal. Acho perfeitamente normal lembrar com carinho que você sempre dava um jeito de me mandar mensagens em datas festivas. Estivesse você casado ou namorando ou ilhado num templo budista, dava um jeito. Era como se dissesse, sem dizer “eu sei que já faz tempo, mas ainda amo você”.
Também me faz bem lembrar que você nunca, nunca, nunca se alterava. Trouxesse o garçom o pedido errado pela terceira vez ou fizesse um playboy qualquer uma tremenda barbeiragem em cima do seu carro. Você nunca estragava nossas noites. Eram tão raros os nossos momentos, você dizia, que eram para ser sempre bons. E de fato sempre eram.
Eu tenho saudade de mil coisas e todas essas mil coisas sempre caem na mesma única coisa de que eu tenho tanta saudade: sua leveza. Você me dizia que jamais iria me cobrar leveza, pois me amava intensa. E me pedia que fizesse exatamente o mesmo, ainda que ao contrário, por você. E eu não obedecia nunca, afinal, pessoas intensas não obedecem.
E assim nós seguimos, por alguns bons anos entrecortados, sendo tão parecidos ainda que tão atraídos mutuamente pelos nossos opostos. A gente era parecido principalmente porque topava as coisas mais malucas como, por exemplo, brincar que tinha acabado de se conhecer numa festa, ainda que tivesse ido junto para a festa. E por horas ficávamos nessa bobeira e nenhum dos dois ria. Até que alguém pedia, cansado, “já pode voltar ao normal? É que está me dando vontade de te beijar e eu não beijo desconhecidos”.
Eu tenho saudades de tudo. Da gente acordar sua vizinha de tanto rir de coisas bestas, do seu carro sempre bagunçado, da paciência que você tinha com meus quase quinze neurônios a menos, da mania que você tinha de arrumar minhas roupas em cima da cama enquanto eu estava distraída e de quando você apertava os ossinhos das minhas costas no escuro e falava, baixinho: “ai, como essa menina gosta de fazer drama!”.
Não é um sentimento egoísta e muito menos possessivo. É apenas uma saudadezinha. Gostosa, tranqüila, bonita, saudável, de longe. E, quem diria: leve.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Mulher-Maravilha

Ela é a mulher-maravilha, trabalha, cuida da criança, arranja o jantar e ainda diz: “Como eu senti saudades o dia todo...” Eu não sei porque cacete eu deixei de gostar dessa mulher, dos chocolatinhos, os vinhozinhos, o fofinho e tudo mais... Vai ver é porque a gente gosta do que é complicado né? Vai ver também é porque eu deixo tudo ir escapando por não estar preparado pra essa emoção que há muito é abundante e relativa.

“Não meu amor, fecha bem devagarzinho a portinha do escuro. Ela não nos pertence mais.”

Sabe, eu sei que esses dias turvos que nos acalantavam me silenciou, não por destreza ou por infidelidade confidencial, mas porque todo mundo deixa, se despede e vai embora, mesmo que não seja inteiro, mesmo que ainda sim, não se pertença. Eu me pertenço agora, na verdade sempre me pertenci, porque eu conheço a dor como ela é, conheço cada pedacinho que faz com que eu me sinta vivo e até aqueles pedaços que me fazem cair morto, sem redes que me prendam. Você foi uma rede por muito tempo, não me deixou cair e também pudera, era uma rede forte e segura, até que eu lhe destroçasse ao meio, dizem por ai que quem ama segura e agüenta, mas quem é capaz de suportar tudo por amor? Eu não.

Eu dou as costas mesmo, vou embora de mansinho e nem digo tchau, porque se eu disser me sinto quebrado ao meio. E eu vou, mas vou inteiro. Talvez eu tenha aprendido a ter menos amor, só pra não deixar que esse amor, deixasse de ser amor.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ser -É, foi, foi-se- Ser

Era uma tarde de segunda ou terça-feira. Ia chover.
E eu o via do outro lado da rua, tão lindo como antes.
Menos esperançoso do que antes, menos brilhante,
Mais mirabolante do que meu humor... E foi-se.
Duas, três frases e... foi-se.
Diminuiu o que era muito.
Acabou o que era tanto.
Explodiu o que estava enchendo.
Alucinógenos...
Alguém me dê alguma droga para passar? Cadê a morfina, doutor?
Morfina, morfina... Por favor.

Ah, veja você.
Agora, quem tem medo de perder?

Eu quero chão. Eu quero rasgar todos versos livres agora.
Eu quero dois meses atrás.
Eu quero ter aquela certeza.
Éramos o que ninguém poderia ser.
Éramos o que queríamos, juntos.
E a segurança?
Eu quero sair.
Prefiro não sentir...
Um, dois, três, quatro...
Seu nome ecoa em minha mente
Viaja até minhas veias,
Se manifesta em arrepio sob a pele alva e clara
Que recobre o meu corpo, já fraco pela perda
Sucessivamente...
Esconda-me, abaixa-me, cubra-me, não o deixe me ver
Eu quero faltar.
Com isso, eu chego em duas conclusões:
1- Sou escritora.
2- Bom é quando faz mal, assim, escrevo.


Alguém entendeu?