
Em um mundo cada vez mais multifacetado, sem consensos ideológicos ou utopias capazes de engajar multidões, restaram poucas unanimidades de interesses. Uma delas é a cultura pop: tudo que lemos, ouvimos, assistimos ou consumimos. Michael Jackson foi um fenômeno cultural que atraiu interesses dos mais díspares cantos do mundo com suas músicas e coreografias. Nestes tempos de long tail, será muito, muito difícil surgir um outro artista capaz de vender tantos discos, fazer tamanho sucesso, atrair tanta atenção. Michael destacou-se em uma época na qual walkmans, fitas cassete, vinis, máquinas de escrever, aparelhos de fax e fichas telefônicas ainda não faziam parte do tal 'museu de grandes novidades' cantado por Cazuza. Mas e agora? Com o tempo, tudo fica velho, desgatado. Quando relacionamos isso à Michael Jacksson, esse raciócio não é valido, simplesmente fica abstrato enquanto o relógio corre, os meses mudam, e os anos passam. Ele foi adquirindo fama, dinheiro, sucesso, reconhecimento, louvor com todos os anos de sua carreira. Foi se transformando na maior estrela da música pop que todos já viram. Vida pessoal à parte, mas Michael foi um grande artista antes de desbotar. Certamente, poderia ser atirada a primeira pedra quando é perguntado quem nunca quis aprender a coreografia do clipe de "Thriller" ou fazer o moonwalking.
E finalmente, a lei gravitacional, é imposta também ao Rei.
Com o tempo, Jacksson foi envolvido em escândalos com menores, e ao cúmulo contratou 15 advogados para defendê-lo de todo sensacionalismo e pressão.Abuso sexual de menores e outras nove acusações pesavam contra ele na Justiça americana.
A tremenda repercussão de sua inesperada morte em sites, TVs e conversas de bar, apesar dele não ter sido capaz de gravar uma nova música marcante nos últimos 15 anos, foi uma prova de que o Rei do Pop, apesar do declínio artístico e pessoal, ainda não havia perdido a majestade. E, neste momento em que piadas infames sobre sua morte pipocam aqui e acolá, prefiro recordar o diálogo entre um padre e um fiel no excelente filme argentino "O Filho da Noiva":
- Deus não é velho, nem jovem. Nem branco, nem negro. Nem homem, nem mulher.
- Ora, padre, este não é Deus. É o Michael Jackson!
O trono do "Rei do Pop" está vago, novamente.
