
Caia a noite. Ela ainda não chegara. Depois dos presentes das supostas amigas, das ligações tão restritas e baixas, e essas demoras que me atordoam a mente... Faz-me achar que tudo foi uma grande mentira. Deus! Será que estou enlouquecendo no final de um amor insano?
Canso de percorrer a casa, desde a cozinha, com o jantar posto à mesa até o nosso quarto. Em tudo há um pedaço dessa miserável mulher que me fincou as unhas no coração e durante todo esse tempo teve-me por inteiro e tão pouco se entregara a mim. Não queria apenas as medidas perfeitas do seu corpo sobre o meu e seus longos cabelos negros, queria ter-lhe a alma, o coração.
O relógio marca agora 23:30 horas e o jantar esfriara. A chave do carro firme em minha mão faz-se barulhenta com tantos chaveiros em atrito e o silêncio que me agoniza.
Vou até a janela que vista para a rua, observo. Vejo um carro parecido com o de Clarissa aproximar-se de casa. Era ela! Uma onda de felicidade inconstante atinge meu interior, ao mesmo tempo, sinto algo vazio e frio congelar-me por inteiro. Encobrindo o que outrora era límpido, e penso nas possibilidades de loucuras que faria com minha mulher se essa estiver realmente me traindo.
Minhas mãos correm pelos fios do meu cabelo, já desorganizado por tanta ansiedade. Mas, logo percebe que devo aparentar como um homem tranquilo, lá vem ela. Jogo a chave que segurava em cima do sofá branco que Clarissa escolhera para a decoração. Definitivamente, tudo tinha um pedaço dela! A porta a frente se abre. Parecia-me cansada.
- Onde estava?
Dois olhos azuis estalam-se em minha direção, imerso em um mar de confusões, sinto Clarissa repudiar minhas palavras com o olhar.
- Como assim onde estava? No trabalho, oras! Avisei-lhe que hoje sairia mais tarde, Conrado! Agora, por favor, só me deixe ir para o quarto.
Não podia acreditar. Ela estaria mentindo para mim tão descaradamente?Uma grande dúvida surge. Não poderia mais confiar em Clarissa.
Sento-me no sofá, tiro ali mesmo meus sapatos e meias. Queria falar com ela, tocar-la, esclarecer esse sentimento que há dias não me deixava dormir em paz.
Subo as escadas na espectativa de poder encontrá-la ainda acordada.
Frente ao quarto, hesito parado à porta. Abro-na enfim. Vejo Clarissa dormindo com a camisola que lhe dera. Era azul e de seda. Os cabelos escuros tão espalhadas pelas almofadas claras, contrastava sua beleza.Aquele corpo tão convidativoguardando o lugar ao lado que me pertencia.
Deito-me vagarosamente para não despertá-la, mesmo que essa fosse a minha maior vontade. Assim como a vontade que me tortura afim de arrancar-lheos pedaços da pele com meus dentes e fazer-lhe confessar toda essa traição! Mas a maciez da sua pele tão clara e alva não me pertia tão crueldade. Ao mesmo tempo, perdia minha sensatez de homem e fazia-me sentir dominado pelo ódio de amá-la tanto para deixá-la ir. Ah! isso doia-me o corpo todo, doía-me a alma. Não poderia perdê-la...
Passaram-se as horas rapidamente e sinto os primeiros raios de luz adentrarem nosso quarto. Os olhos dela abrem-se e me encaram docemente.
- Bom dia, amor.
Disse-me Clarissa, logo após de abrir os olhos e ver-me fitando-a tão seriamente.
- Oi, Clarissa.
- Tenho que me levantar logo, hoje é dia de trabalhar muito novamente.
- Você não vai.
- O quê?
Ela hesitou por um instante.
- Não vai trabalhar, eu disse.
- Olha, eu não sei qual é a sua frustração, mas eu tenho um compromisso a cumprir, Conrado. Chega dessa loucura! É muito pra mim!
E levantou-se aos gritos. Mas de uma coisa eu estava certo: Ela não iria me enganar hoje. Irei espionar-lhe!
Após Clarissa sair, espero um tempo e vou atrás, seguindo seu carro até o trabalho.Estaciono distante para não perceber minha presença.
Passadas muitas horas frente ao prédio, escurece. Vejo-na sair.
Ela dirige a caminho de casa, e então passo a pensar na hipótese de Clarisse, por esse tempo todo, estar certa, ter me dito somente a verdade. Ela chega. Adentra a casa após estacionar. As luzes dos quartosacendem-se gradativamente, e então ouço meu celular tocando no banco ao meu lado. Era ela! Decido não atender, seria melhor. Passam-se quarenta minutos, no celular estão perdidas vinte e cinto chamadas de Clarissa e três mensagens perguntando-me onde estava. Ela se importava comigo. Ela estava sentindo o que eu, por dias, senti agonizando. Vi minha muilher corer várias vezes até a janela com lágrimas escorrendo por sua face. Decidi entrar.
Ao chegar, Clarissa teve um surto, jogando o telefone ao chão e correndo para os meus braços.
- Por Deus! onde estava?! Foi uma tortura isso, por horas! Você estava com outra, Conrado? Com quem estava? Eu não vou aceitar isso, olha, eu... o que você está fazendo com a gente?! Conrado!
Clarissa se afastara de mim repentinamente e seus lindos olhos azuis estavam imersos num oceano de lágrimas e vermelhos como o sangue que corria por suas veias. suas mãos tremiam desconexas e após abraçá-la senti seu coração pular em seu peito, desesperado.
- Eu estava esse tempo todo perto, te observando, meu amor. Pensei que você estava me traindo, Clarissa. Já não aguentava mais esse ciúmes!
Clarissa, então, abraçou-me como nunca, e então beijou-me a boca com devoção. Sentia as lágrimas quentes caírem de seus olhos sobre a minha face.
-Jamais, meu amor. Jamais!
Acabara-se ali qualquer dúvida de traição. Fora apenas o maldito ciúmes.

Ah que texto mais lindo *-* adoreeeeeeeei!
ResponderExcluirfiko mtoo bom lorac ;D
ResponderExcluirMuuito lindo Lo!
ResponderExcluir"Era ela! Uma onda de felicidade inconstante atinge meu interior, ao mesmo tempo, sinto algo vazio e frio congelar-me por inteiro. Encobrindo o que outrora era límpido..."
Incrível, que quando sentimos algo por alguém, não há somente o sentimento de amor, há também o medo de perder, o ciúmes, a plena e indescritível felicidade em vê-las e tê-las.
Adorei :*
gente, obrigada! esse texto caiu na UFMG eu acho... o tema era "Ciumes". Nunca fiz narração na vida, essa seria a primeira. hahahahaha
ResponderExcluirObrigada.
A saudade as vezes é desesperadora. É um luto, a pessoa estava aqui e de repente não está mais, pra nunca mais voltar. Foi uma perda muito brusca.
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